Eu não tenho ambição

No mundo do trabalho, os qualificadores “motivado” e “ambicioso” são altamente valorizados. As ofertas de emprego estão repletas de termos que apelam aos executivos ou futuros executivos, prontos a sacrificar-se pelo seu trabalho. As promoções internas focam em jovens pistoleiros com dentes afiados, os mesmos que te mandam e-mails à noite ou nos finais de semana, por exemplo. Aqueles que não são considerados parte deste círculo restrito de start-ups promissoras são na maioria das vezes ignorados, por vezes postos de lado e por vezes agradecidos. Porém, eles são necessários para a atividade. Algumas pessoas têm que fazer o trabalho sujo. Assim como um time de futebol, uma empresa não pode ser formada apenas por estrelas. Estes últimos só brilham se o resto da equipe trabalhar nas sombras por eles.

De minha parte, nunca fui viciado em trabalho. Isso é o mínimo que podemos dizer. Mesmo assim sou consciencioso, vou até o fim e sem querer me gabar, posso contar com uma inteligência cheia de bom senso. Definitivamente vem do meu tipo de personalidade. INTJ. Graças a essas qualidades, fui e ainda sou muito apreciado pelos meus chefes. Aos olhos deles, faço parte, apesar de tudo, desta casta de executivos privilegiados. No entanto, ali no meio, sempre me senti um usurpador. Digo isso de forma inequívoca: não tenho ambição. Isso deve ser entendido no sentido literal do termo: não quero subir na hierarquia, não busco responsabilidades e não tenho fome de títulos. Infelizmente, num contexto profissional, quando dizemos que uma pessoa não tem ambição, é fortemente depreciativo. Consideramos esse desinteresse em progredir na empresa um sinal de fraqueza ou preguiça, ou mesmo de pura covardia ou traição.

Estou convencido de que entre as gerações que seguiram o baby boomers, ou o X,S E Z, muitos de nós vivemos nesta situação em que tentamos evitar responsabilidades, ou as aceitamos com relutância, para não sermos classificados como um fardo. A ambição era um valor fundamental entre os boomers. Foi certamente bom, pois coincidiu com um período de intenso desenvolvimento económico. No entanto, também mostrou os seus limites, uma vez que levado ao excesso rimava com a assunção de riscos imprudentes, a corrupção e a fraude. Os repetidos escândalos financeiros do início do século XXI^e século não são estranhos à ascensão do poder dos boomers nas estruturas dominantes. Pense, por exemplo, em Marcel Ospel e Bernard Madoff. É, portanto, tempo de recolocar a ambição no seu devido lugar, nomeadamente considerá-la como uma entre muitas competências profissionais que podem ser valorizadas. Uma empresa não deve depender apenas de pessoas ambiciosas porque nunca será capaz de satisfazer todas elas. Por outro lado, não é porque um funcionário declara não ter ambição que deva ser considerado madeira morta.