Reflexões sobre a corrida dos ratos (13/02)

Este post é a parte 2 de 13 da série A corrida dos ratos.

A sociedade de consumo é certamente boa. Permitiu-nos aumentar substancialmente o nosso padrão de vida desde a revolução industrial. Já se foi o tempo em que tínhamos que acender velas, lavar roupas e pratos à mão, lavar-nos em chuveiros compartilhados ou fazer longas viagens a cavalo. Da mesma forma, hoje a maioria das doenças pode ser tratada sem sucumbir a elas, o que aumentou consideravelmente a nossa esperança de vida. Também podemos corresponder facilmente, de formas cada vez mais sofisticadas, com pessoas que estão muito distantes de nós, algo que simplesmente não era possível no passado. De um modo geral, as nossas atividades tornaram-se menos extenuantes e menos perigosas fisicamente.

Contudo, não há ganhos sem perdas. Se o nosso trabalho hoje é menos exigente do ponto de vista físico, é muito mais exigente psicologicamente. Devido aos novos meios de comunicação, a Internet, o e-mail e os smartphones, a linha entre a vida privada e a vida profissional tornou-se muito ténue. Portanto, é difícil dar um passo atrás, sair do trabalho e recarregar as baterias.

Aumentam as doenças ocupacionais, o esgotamento, a depressão, sem falar nos suicídios no trabalho. Embora as doenças transmissíveis tenham se tornado menos perigosas, as doenças não transmissíveis, lideradas pelo cancro e pela diabetes, estão claramente a aumentar. Tornamo-nos mais individualistas, mesmo com as nossas patologias.

Podemos ir mais rápido, mais longe, por menos dinheiro, mas por outro lado, muitas vezes reclamamos por não termos tempo suficiente para nós mesmos. Nossa sociedade tornou-se obcecada por objetivos que precisam ser alcançados o mais rápido possível e por listas de tarefas a serem cumpridas. Faça, faça, faça... e esqueça de ser.

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No passado, o caminho era pelo menos tão importante quanto o objetivo. A cavalo, não tivemos muita escolha a não ser nos dar o tempo necessário. Hoje, quando a missão estiver cumprida, a próxima já deverá estar cumprida também. Tudo isto tem um impacto significativo no nosso bem-estar e desenvolvimento. Não deveria ser surpresa que nosso mundo esteja enlouquecendo. Nós, ratinhos, andando em todas as direções, marcando cruzes nas listas de afazeres, nós que gostamos feito loucos, mas que perdemos o sentido de saborear as coisas da vida. Ao querer tudo imediatamente, esquecemos que é o tempo que dá sentido às coisas da vida.

Infelizmente, só nos damos conta disso quando esse tempo desaparece, por exemplo, por doença ou morte. É parando por um momento, dando um passo atrás, passando um tempo com nossos entes queridos, que nos reconectamos com nossos valores. Quem nunca teve a sensação de se reencontrar depois de passar 3 semanas em uma ilha sem fazer nada? Nós nos reconectamos conosco e com os outros. Nosso cérebro de rato superexcitado para de superaquecer e começa a funcionar de forma coerente e eficiente novamente.

 

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