Diário de um futuro pensionista (6)

Esta postagem é a parte 6 de 86 da série Diário de um futuro pensionista.

Jornal

O mundo profissional é feito de cigarras e formigas. As cigarras passam o tempo pavoneando-se, exibindo suas últimas fantasias, gesticulando e vomitando seu fluxo estúpido de ideias o dia todo. Eles chegam de manhã, todos arrojados, cantam as façanhas do dia anterior tomando um café antes de mostrar todo o seu conhecimento, pulando de uma sessão para outra. O silêncio e a quietude os assustam tanto que preferem criticar e destruir o que funciona bem a se abster. Sempre em busca de uma oportunidade de se tornarem importantes, as cigarras impõem as suas ideias, sem ouvir as dos outros e sem levar em conta os erros do passado. É assim que os mesmos conceitos reaparecem ciclicamente nas empresas, a critério dos gestores, desfazendo o que já foi feito pelos seus antecessores, mas sem maior sucesso.

Embora as cigarras falem muito e tenham opiniões sobre tudo, elas nunca funcionam. Eles dizem “Temos que” ou “Só temos que”, mas se você perguntar “Como?”, eles dirão que o problema é seu, quando na verdade é deles. No final do dia as cigarras saem do escritório com a mente livre, satisfeitas por terem conseguido despejar a sua carga de bobagens sobre os outros. Quando chega a noite, eles dormem em paz, recarregando as baterias antes de enfrentar mais um dia agitado.

As formigas, por sua vez, levantam-se cedo para aproveitar o trabalho antes de suportar o canto estéril das cigarras. Eles tentam o melhor que podem fazer a sociedade funcionar, preenchendo as lacunas abertas pelas cigarras. Eles trabalham nas sombras, tentando manter o prédio unido, apesar dos ventos contrários que as cigarras sopram ao longo do tempo. Enquanto estas últimas desfilam à frente das empresas, trazendo e saindo com suas ideias malucas, as formigas cumprem fielmente o trabalho administrando a empresa e trazendo o dinheiro para pagar as cigarras.

LER  5h: quando o cansaço dá lugar à gratidão

No final do dia as formigas voltam para casa, exaustas por terem tido que aguentar as inconstantes teorias das cigarras e principalmente por terem tido que limpar a bagunça que havia atrás delas. Quando chega a noite, eles ruminam e se preocupam com o novo dia que está por vir. Mesmo que sejam as formigas que fazem a sociedade funcionar, a sociedade só recompensa aquelas que cantam mais alto.

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2 pensamentos sobre “Journal d’un futur rentier (6)”

  1. É verdade… concordo totalmente. Quando olhamos para o impacto (em termos de destruição de valor) que podem ter decisões tomadas ao mais alto nível (fusões de empresas, aquisições aleatórias, operações financeiras de risco), enganamo-nos: o objectivo dos “laços” com o seu belo terno, é construir um bom currículo para passar de conselho de administração em conselho de administração. E aí, o objetivo geralmente é totalmente bem-sucedido.

    Nessas condições, tornar-se beneficiário não é pegar leve ou “tirar vantagem” do sistema, é apenas uma forma de dizer “merda” ao sistema.

    PS: Você tem um verdadeiro talento para escrever :)

    1. Como você disse, tornar-se um beneficiário não significa pegar leve ou aproveitar as vantagens do sistema. É apenas um retorno justo, ou seja, que o trabalho de alguém não sirva mais aos outros, mas a si mesmo. E, finalmente, diga “m…” ao sistema, de fato.

      Obrigado pelo elogio 😉

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